13/10/18

Vilarinho da Furna, 1979

Estávamos em 1979, oito anos depois das águas terem engolido a aldeia comunitária de Vilarinho da Furna. Nesse ano a albufeira foi esvaziada devido a reparações na barragem de betão. As águas do rio Homem voltaram ao leito primitivo e a aldeia emergiu, então, como um fantasma de si própria, com as suas casas, ruas, portões e terrenos de cultivo demarcados, a par das árvores mortas de pé com os braços erguidos ao céu. No Inverno daquele ano a água voltaria a subir e a aldeia regressaria ao túmulo donde havia despontado, para reaparecer parcialmente nos anos de baixa pluviosidade.









5 comentários:

  1. Há muitos, muitos anos vi um filme sobre o processo de desalojamento desta aldeia antes do enchimento da barragem, que muito me impressionou. A população foi tratada de forma revoltante por parte do poder político do Estado Novo, com o governador-civil de Braga (Santos da Cunha?) a desempenhar o papel mais odioso. Se calhar, o filme está no Youtube.

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  2. O filme é do cineasta António Campos e data de 1971. Está de facto no Youtube, aqui: https://youtu.be/PrBbdmUDulg

    Estranhamente, para mim, o filme-documentário está intitulado como "Vilarinho das Furnas" quando o autor, profundo conhecedor da aldeia, sabia seguramente que Vilarinho era da Furna. Das Furnas passou a ser quando a hidroeléctrica que construiu a barragem lhe deu esse nome, que, com o tempo, passou a designar erradamente a aldeia.

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  3. Ora vejam lá! Quando falei no filme, não me passou pela cabeça de que o próprio Carlos Romão o tivesse posto no Youtube! Ainda não o (re)vi, mas fá-lo-ei assim que puder. De qualquer modo, agradeço desde já.

    Eu nunca li o livro de Jorge Dias sobre Vilarinho da Furna. Dele, só li o livro sobre Rio de Onor, de que gostei imenso. Li também, igualmente há muitos anos, um trabalho académico não sei de quem, que fazia uma comparação entre os dois livros de Jorge Dias e as comunidades de que falam. Dizia-se neste trabalho académico (seria uma tese de doutoramento?) que, embora Vilarinho da Furna e Rio de Onor fossem dois exemplos de comunitarismo agro-pastoril, existiam diferenças significativas entre eles. Vilarinho da Furna, situada no Minho (mais fértil), era uma comunidade predominante agrícola, enquanto Rio de Onor, situada em Trás-os-Montes (mais árido), era predominantemente pastoril. As diferenças entre as duas comunidades residiriam, não só nos seus modos de vida, mas também e sobretudo nas respetivas culturas: galaico-portuguesa no caso de Vilarinho da Furna e leonesa no caso de Rio de Onor. A maior diferença entre elas, porém, verificar-se-ia ao nível da religião. Segundo o estudo, a comunidade de Vilarinho da Furna era profundamente crente e temerosa, levando uma vida de rezas, novenas, jejuns e penitências, com medo de ir para o Inferno depois da morte, enquanto a comunidade de Rio de Onor, embora crente, vivia a religião de uma forma muito mais alegre e despreocupada, ainda com laivos do seu ancestral paganismo. A proximidade de Vilarinho da Furna a Braga, a cidade dos arcebispos, (digo eu) talvez explique a diferença.

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  4. É muitíssimo interessante a comparação que refere entre Vilarinho da Furna e Rio de Onor. Infelizmente não li nenhum dos livros de Jorge Dias. Sobre Vilarinho tenho lido textos avulso e li «Rio Homem», romance de André Gago, editada pela ASA, que conta a história de um republicano refugiado da Guerra Civil de Espanha, acolhido e encoberto pela população de Vilarinho da Furna. É uma obra de fôlego, fruto de uma investigação profunda, que nos conduz ao interior da mítica aldeia desaparecida, num período histórico que vai dos anos 40 até 1971.
    Tudo mudou, entretanto. Da última vez que estive na barragem, o que vi foi mato e terra queimada, como acontece um pouco por todo o país. Até o nome de S. João do Campo, a que pertencia Vilarinho, foi mudado para Campo do Gerês. Provavelmente vende-se melhor assim.

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  5. Boa noite. O senhor tem mais fotos de Vilarinho da Furna?

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